quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sua psicologia está errada: ficar todo mudo fica!


“Eu sou de ninguém, eu sou de tudo mundo e todo mundo me quer bem, eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”


Hoje em dia se você “já sabe beijar de língua e já sabe aonde ir, só resta sair”, como diz os Tribalistas. Mas beijar na boca e saber sair de casa é saber o que realmente quer? Se for, tem uma galera com 12 anos que sabe mais o que quer da vida do que eu. A moda é beijar na boca, ser de todo mundo e não ser de ninguém? O pessoal do tempo antigo passaria mal ao ver como os jovens de hoje se comportam. Mas tente entende-los (sem apologias, eu vou explicar o raciocínio). Quando você é de ninguém e de todo mundo, você não sofre, não se apega e fica tudo em paz. Assim vai levando a vida, curtindo com o errado enquanto não acha o certo.(O duro é se o certo aparecer quando você estiver com errado e ai “bal-bal”). È assim que funciona, pra que ser só de alguém? E se esse alguém para de gostar gente? Ai tem o João, o Pedro, o Henrique (No caso dos meninos, a Maria, a Joana, a Lúcia), pra afogar as mágoas. Nossa sociedade tem medo do afeto, do amor, carinho, da vivência, da entrega e cumplicidade. Quando você não tem um compromisso firmado com niguém, não cria expectativas na pessoa, dificilmente algum ato de libertinagem seu irá fazer com que o outro não lhe queira bem. Por isso é melhor “ser de ninguém e todo mundo te querer bem” (?). A mesma música que me fez querer escrever sobre o assunto, em sua letra há uma referência sobre a televisão. “Não tenho paciência para a televisão Eu não sou audiência para a solidão”, voltamos ao velho ditado quando os pais tinham uma penca de filhos. “Vocês não tem TV”?. Com a programação precária da nossa televisão brasileira, resta apenas sair de casa ou fazer uma festinha em casa mesmo. Jovens, adultos e jovens senhores estão sempre se reunindo para tomar uma geladinha e jogar conversa fora. Essa reunião ao mesmo tempo que fortalece os laços da amizade e faz nascer novas amizades (coloridas). Um amigo que leva outro amigo que leva outro e a turma vai crescendo e as pessoas vão se “entrelaçando”. “Tô te querendo como ninguém. Tô te querendo como Deus quiser. Tô te querendo como eu te quero. Tô te querendo como se quer”. Essa parte é a mais difíciil de decifrar ao meu entender, porém a mais interessante. É incrível como as pessoas se comportam de forma singular quando estão com alguém. O casal diz: eu te quero como ninguém mais, (só hoje e quem sabe amanhã). As pessoas durante um encontro agem de forma única e tão verdadeira que chegam a parecer um conto de fadas. Só que esse conto acaba no fim da noite com um “beijo, me liga!!!”. Na verdade está embutido nessa frase: Foi um prazer e até quem sabe....ou melhor, “Tchau, I have to go now....tchau”!!!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

“Pra que etiqueta, ter boas maneiras, se estamos do lado de cá da fronteira”.


“Pra que conteúdo, se a casca é bacana, a foto é perfeita, o riso é sacana. O mundo é blasé, pró seco rose”. (Banda Chicas)

A população ocidental acha um absurdo a cultura dos orientais, as relações familiares, políticas e afetivas. Porém o lado de lá é milenar, e logo deveria ser mais evoluído, porém aos olhos ocidentais eles são um povo atrasado. Com a novela “Caminho das Índias”, a cultura indiana está em alta. Além da Índia, outros paises do oriente tem se destacado com a China que tem mostrando o porquê será a “grande potencial mundial” (eu penso que sim).

A cultural oriental tem invadido as casas através dos desenhos Pokémon, Digimon, Dragon Ball, Dragon Ball-Z e curtas metragens como Power-Rangers e Cavaleiros do Zodíaco. Não adianta negar, o mundo globalizado está misturando as civilizações.

As mulheres usam as bijuterias do lado de lá, a população em geral usa dos provérbios e reflexões em busca de um equilíbrio, enquanto eles comem o Mc Donald’s produzido do lado de cá .Essa reflexão me fez lembrar a música Geração Coca-Cola do Legião Urbana “Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurraram com os enlatados dos U.S.A., de nove as seis. Desde pequenos nós comemos lixo comercial e industrial. Mas agora chegou nossa vez. Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês”.

A cultura da Índia é uma das culturas mais antigas que conhecemos. Alguns afirmam ter mais de quatro mil anos. A cultura indiana antiga dividia a sociedade em quatro categorias de ofícios e quatro de idades. Esse sistema tem o nome de Sanatana Dharma. Tal aspecto cultural gerou diversas distorções na sociedade contemporânea e apesar de oficialmente banido, continua sendo infamemente praticado.

Um exemplo são os Dalits, que para a cultura indiana, representa uma classe de cunho inferior, tida como impura. Eles fazem os trabalhos considerados mais desprezíveis: recolha de lixo e coveiros. Uma pessoa de classe superior ao dalit jamais pode ter contato com um dalit. Por isso chamados de intocáveis. Dalits só se relacionam entre si. É uma classe marginalizada pela sociedade.

Hipocrisia é dizer que eles são um povo atrasado e preconceituoso e que fazem coisas do “arco da velha”, como dirá minha avó. Não pasmem, eu vou me explicar. Os indianos tem preconceito em relação aos dalites, equivalentes os mendigos e favelados. Alguém se arrisca a dizer que não existe preconceito em relação à eles? Na Índia os casamentos são arranjados, eles afirmam que o casamento é como uma panela de água, quando casam a água está fria, e aos poucos vai esquentando até borbulhar, eis é o amor. Aqui os casamentos são feitos com a água pelando e depois a água esfria tanto que não se perde só amor, mas o respeito, o que foi conquistado junto até que o casamento chegue ao fim por conta de uma relação intolerante (deixo claro, não estou generalizando, mas temos ao nosso redor vários exemplos).

Talvez devêssemos dar mais atenção para esses povos, ao invés de simplesmente acha-los bizarros e desumanos quando um homem bomba busca seu paraíso com suas sete virgens. Não se compara, e longe de fazer apologia a qualquer tipo de crime, mas aqui vemos cada coisa ser feita por sete virgens...Esses povos tem certas crenças que foram arraigadas desde o nascimento. Quem está certo quando o assunto é cultura, religião e costumes? Desde que não se prejudique o próximo, todos estão certos. E os povos da África? Isso é assunto para outro artigo.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

“Ser mulher é algo difícil, já que consiste basicamente em lidar com homens”.




Quantas vezes você abandonou alguém com medo de ser abandonado?Quantas vezes você não se entregou ao amor com medo de perder o controle?


Leidiana Palma
A mulher, que antigamente queria segurança no casamento, hoje procura amor. O grande medo do homem moderno é amar e ser amado. Eis o dilema do ser humano que é querer viver um grande amor e ao mesmo tempo procurar destruí-lo. Esse receio, como diria Shakespeare, “nos faz perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar”.
Os homens esperam que as mulheres se comuniquem racionalmente como eles o fazem. As mulheres, por sua vez, esperam que os homens se sintam e se comuniquem da mesma forma que elas. Assim esquecemos que homens e mulheres são diferentes e por consequencia agimos diferentes. Por isso nossos relacionamentos vivem rodeados de conflitos.“Supomos erroneamente que se o(a) nosso(a) parceiro(a) nos ama, vai reagir e se comportar de certa maneira? As maneiras que nós reagimos e nos comportamos quando amamos alguém”. (Livro – “Os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus”). Os homens são motivados quando percebem que são necessários, enquanto as mulheres se motivam por serem mimadas. Quer conquistar o amor de uma mulher? Ignore-a. É verdade. As feministas que me desculpem. Como diria Sócrates, “o ideal no casamento é que a mulher seja cega e o homem surdo”. Se fosse fácil o relação homem/ mulher Drummond não teria escrito: “amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão.
Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão”.
Admiração é o encontro de cada um de nós com o que há de belo no outro. Um dia me falaram que mais do que amor pelo parceiro, era preciso ter admiração. Confesso que sigo essa linha de raciocínio; porque esperar pelo príncipe encantado num cavalo branco e sentir borboletas batendo asas dentro da gente é conto de fadas. Precisamos de coisas mais palpáveis, coisas reais. As mulheres procuram ilusões, pessoas que não podem ser tocadas, amores platônicos. Talvez seja um refúgio. O homem não, ou ele entra para consagrar ou ele acha que vai dar certo e ponto. Poucas pessoas suportam a solidão, porém vivem com medo da rejeição. Então, a saída é ficar no ponto de equilíbrio entre a solidão e um grande amor, no qual há a sensação de que tudo está bem. A mulher coloca um ponto final quando não ama mais. O Homem quando não aguentam mais. “Amar não é viver assustado, procurando adivinhar o que o parceiro quer para obter sua aprovação, ou temendo o seu mau humor. O verdadeiro amor nos dignifica e nos dá a real dimensão do nosso valor”.(Livro – “Amar pode dar certo”).
Pra quem leu “Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor”, vale lembra de um trecho onde explicam que a mulher tem visão ampla enquanto o homem tem uma visão fechada. Ao chegar em uma festa a mulher percebe logo aquela linda mulher no fundo do salão com o vestido vermelho com uma rendinha na barra. Ai, solta a infeliz frase. – Você esta olhando pra ela né? Ele, sinceramente diz. –Ela quem? - Não se faça de bobo, a de vermelho no fundo do salão. O homem olha pra trás pra ver quem é e leva um beliscão enquanto a mulher diz: - Vai, olha mesmo!
Em “As mentiras que os homens contam” de Luiz Fernando Veríssimo ele retrata esse mundo complicado e perfeito dos homens e mulheres. Um conto que tenho apreço é pelo marido que perde a aliança.“Ele teve que parar na estrada para trocar o pneu do carro, e como sua mão estava cheia de óleo, a aliança escorregou, sem querer ele chutou, ela foi para o meio do asfalto e um carro a jogou para dentro de um bueiro. Com medo de contar essa história para a esposa, que obviamente não acreditaria, ele diz que estava no motel com outra mulher e a aliança caiu no ralo da banheira. A reação da esposa? Perdoou, pois pelo menos ele disse a verdade”. Engraçados como as coisas poderiam ser mais simples se homens e mulheres entendessem uns aos outros. Tenho muitos amigos homens e converso com eles sobre relacionamentos e vejo o quanto a mulher fantasia em cima de uma simples declaração ou gesto. “Os homens erroneamente oferecem soluções e invalidam sentimentos enquanto as mulheres oferecem conselhos e orientações não-solicitados”.(Livro- “Os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus”).
Quando duas pessoas estão empenhadas em ter uma relação saudável e gratificando ambas, fazem mudanças e concessões. Ninguém é referência de felicidade pra ninguém. Leonardo Boff em sua sabedoria disse: “os maiores inimigos do amor são o medo e a indiferença. O medo estiola a pulsação vital e transforma o amor em angústia. A indiferença supõe a morte do amor”.
Mesmo assim acho que acreditar no amor vale a pena. Termino esse lamento com um poema do Mário Quintana. “Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades, às pessoas, que a vida é bela sim e que eu sempre dei o melhor de mim e que valeu a pena”.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Não fui eu que escrevi, foi o meu eu-lírico

“Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever” (Clarice Lispector)

Se expressar através da escrita é uma das formas mais difíceis em minha opinião. A escrita é mais transparente, por cada palavra ser pensada, lida e relida e as vezes excluída quando quem escreve a acha desnecessária. É exatamente isso que assusta quem escreve, a transparência de suas palavras. Ao escrever, não se usa máscaras nem escudo, pois escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido, logo seremos mais facilmente atingidos pelas críticas. Ao manter um diário, independente do sexo ou da cidade, o “diarista” não deixa ninguém ler. Esses só são vasculhados às escondidas ou após a morte de quem os escreveu. O diário é a forma mais sincera de uma pessoa se comunicar com ela e com o mundo. Afinal a ideia é que ninguém leia o que foi escrito, pois “escrevendo eu sou capaz de expressar palavras que eu jamais deixaria fluir pelo som da minha voz” ( Mara Chan, escritora espanhola de 24 anos). Hoje temos a chamada liberdade de expressão descrita em nossa constituição. Porém houve épocas no Brasil em que não se podia escrever o que se passa entre um neurônio e outro. Chico Buarque foi ameaçado pelo Regime Militar no Brasil, esteve exilado na Itália em 1969. Nessa época teve suas canções “Apesar de você” e “Cálice’ censuradas pela ditadura brasileira. Adotou o pseudônimo de Julinho da Adelaide, com o qual compôs apenas três canções: "Milagre Brasileiro", "Acorda amor" e "Jorge Maravilha". Usava do pseudônimo para driblar a censura, então implacável ao perceber seu nome nos créditos de uma música.
Muitas vezes o poeta usa do eu-lírico que é quando os sentimentos expressados não foram sentidos, ou sentidos com menos intensidade. O eu-lírico é a voz que fala no poema e nem sempre corresponde à do autor. O eu-lírico pode ou não expressar as vivências efetivas do poeta, mas a validade estética do texto independe da sinceridade do mesmo.A dúvida que cai é se muitos escritores não usam do eu-lírico para camuflarem a realidade. As palavras ditas em sua essência amedrontam os que escrevem e os que leem..
Fernando Pessoa tinha três heterônimos, personagens por ele criado, que escreviam de formas diferenciadas. Porém Fernando Pessoa afirmou discordar dos seus personagens. "Não há que buscar em qualquer deles idéias ou sentimentos meus, pois que muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive", afirmou o poeta a respeito de seus heterônimos.
Porque escrever algo que não se sente? E se não se sente há necessidade de deixar isso claro? Escrever o que realmente passa em nossas mentes é a tarefa mais difícil. Penso por isso que “o poeta é um fingidor que finge completamente e chega a fingir que é dor a dor que deveras sentes”, (Fernando Pessoa).
Carlos Drummond de Andrade começou a escrever poemas eróticos no fim de sua carreia Em 1992 publicou o livro de Poemas Pornográficos expondo um lado radical do poeta. O mais ousado foi o livro “O Amor Natural”, que revelou as poesias eróticas/pornográficas que Drummond manteve ocultas. Poucos amigos seus as conheciam e o poeta só aceitou que elas fossem publicadas após a sua morte. Mário de Andrade costumava dizer que a culpa destes poemas eróticos era a timidez de Drummond. Mário também falou sobre esse dilema que é escrever. “Escrevo sem pensar tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi”.
Acredito que a mudança de comportamento vivenciada na década de 50 por Drummond, somada ao avanço de sua idade seja o motivo da liberação sexual em seus poemas, embora tons eróticos podem ser percebidos levemente em suas obras desde da década de 20 quando mostrar um tornozelo era erótico. “O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada”.
Como já foi dito em outra resenha, Clarice descrevia sua alma, mas em entrevistas evita falar de si mesma. Clarice perante as câmeras era tímida, em seus textos falava sem pudor. “Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro”. Me retifico quando disse que escrever é uma tarefa árdua. Escrever não é difícil, o difícil é mostrar as pessoas o que você escreveu, pois “escrever é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial”. Virginia Woolf.

segunda-feira, 23 de março de 2009

A mulher é a carne mais barata do mercado



“Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante”, Carlos Drummond de Andrade.


Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette foram únicos ao dizerem que a carne mais barata do mercado é a carne negra. Eu ouso fazer um trocadilho, “a carne mais barata do mercado é a carne feminina. Embora mereça valor inestimável, a mulher tem esquecido do tesouro que possui em si mesma. Me senti na liberdade de mudar a letra da música de Seu Jorge e companhia: “Quem vai de graça pra cama. E para debaixo dela. Quem vai de graça pro escuro. E pros motéis enlouquecidas. A carne mais barata do mercado é a carne feminina. Quem fez e faz história segurando esse país no braço. A mulher aqui não se sente revoltada, porque os conselhos já foram lançados e o desespero é lento, mas muito bem intencionado. E esse país vai deixando todo mundo fútil e o cabelo esticado. Mas mesmo assim, ainda guardo o direito de algum antepassado da mulher brigar sutilmente por respeito. Brigar bravamente por respeito, brigar por justiça e por respeito de algum antepassado da mulher. Brigar, brigar, brigar. A carne mais barata do mercado é a carne feminina. No último fim de semana fui em uma danceteria na cidade de São Paulo, só tinha gente bonita e os ditos “globais”. Era festa de uma agência de modelo, homens sarados, meninas magras com cabelos que nasceram para ser sacudidos em um comercial de xampu. Isso me fez lembrar de um texto da escritora Martha Medeiros. “Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar (ou quase). Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém. Com um currículo desse, criatura, por que diabo está sem um amor?”. Seria porque as mulheres estão tão liberais que não precisam mais de um companheiro? Ou seria porque as mulheres estão tão independentes que os homens tem receio dessa autoconfiança? Se alguém descobrir me conte. Porque as vezes penso que elas não querem, outra hora tenho ceteza que eles só “as” querem. Claro que pra toda regra existe sua exeção, mas quanto maior o número de pessoas por metro guadrado menor a possibilidade da exeção. Você dificilmente vai arrumar um namorado na balada. As mulheres vão para as festas seminuas, achando que vão arrumar um “bom partido”, dali tenha a certeza que não vai passar de uma “vida tão vulgar” como diria Claudinha Leite. O homem continua com seu instinto animal, vai para as festas para caçar, sempre foi assim desde os tempos das cavernas. Eles procuram as mulheres com os corpos mais “reforçados”, antigamente se procurada o corpo reforçado para criar filhos saudavéis. Hoje os corpos “reforçados” são para deixar o homem “saudavel”. Ao ver as moças exibidas na danceteria, com pernas de fora, empoleirada nos lugares mais auto, dançando “periguete”, me lembrei das carnes expostas no açougue. Sabe quando chegamos a um açougue e tem todos os tipos de carne à mostra pra quem quiser comprar? Com gordurinha ou magrinha, maior ou menor. A expressão que tenho é que as mulheres saem para serem caçadas, e os homens ficam lá imunes, esperando que elas se ofereçam. É como se o corte de carne falasse: “Tô aqui me compra que eu sou a mais gostosa”. Martha parece entender esse universo paralelo, onde os homens são de marte e as mulheres são de vênus e ninguém sabe quem é e o que quer. “O ficante é o cara que te namora por duas horas numa festa, se não tiver se inscrito no campeonato.“Quem pega mais numa única noite”. É natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... Esquece, não acho natural coisa nenhuma. Considero um desperdício de energia pegar sete caras, pegar nove “mina”. A gente está falando de quê, de catadores de lixo? Pegar, pega-se uma caneta, um táxi, uma gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegue e use, pegue-e-chute, pegue-e-conte-para-os-amigos. No entanto, quem pode contra o avanço (???) dos costumes e contra a vulgarização do vocabulário?”.
Eu como mulher fico triste em escrever esse texto e confesso que tomei cuidado com cada palavra para que não fosse mal interpretada. Eu faço parte do mundo feminino e logo sou incluída nessa sociedade sem conteúdo, onde o cérebro ficou esquecido junto com os princípios. O mais cômico é a mulher considerada careta que costuma sair com uma roupa brega, longa sem mostrar as curvas, de repente ser seduzida por alguns minutos de “olha pra mim” e se tornar parecida com as outras pra se senir normal. Atire a primeira pedra que nunca se exibiu para sentir autoconfiança. A mulher deve se independente, inteligente, moderna, mas não deve esquecer que é mulher. A mulher é a primeira maravilha, ela chora, é complicada, sentimental, linda, faz milhões de coisas ao mesmo tempo, dá a luz, amamenta, se apaixona e faz se apaixonarem por ela. A mulher tem um valor inestimável, como já disse no inicio desse texto, e às vezes ela esquece disso e acha que é apenas um pedaço de carne no açougue, ela precisa ser sábia para ser a mulher que merece. As Sagradas Escrituras falam da mulher sábia.. Toda mulher sábia edifica a sua casa; a insensata, porém, derruba-a com as suas mão". (Provérbios 14:1) Por fim mais uma da Martha. “O poeta Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é para sempre. É ele quem encerra esta crônica, dando-nos uma ordem para a vida. ‘Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante’, (Drummond). Mas não se esqueça: Assim como não se deve misturar bebidas, misturar pessoas também pode dar ressaca”.

domingo, 22 de março de 2009

O “Big Brother” esta cada vez mais presente





Na sociedade descrita por George Orwell, em sua obra 1984, todos as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por “teletelas”


Há quase 60 anos, o escritor George Orwell já alertava sobre a nossa sociedade, em o romance Mil Novecentos e Oitenta e Quatro- 1984, que conta a história de uma sociedade vigiada através de uma teletela pelo grande irmão (Big Brother). 1984 retrata o cotidiano de uma sociedade onde o Estado é onipresente, com a capacidade de alterar a história e o idioma, de oprimir e torturar o povo e de travar uma guerra sem fim, com o objetivo de manter a sua estrutura inabalada. O título vem da inversão dos dois últimos dígitos do ano em que o livro foi escrito, 1948. Na história escrita por Orwell, todos as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por teletelas (telescreen), sendo constantemente lembrados pela frase de propaganda do Estado: "o Grande Irmão zela por ti" ou "o Grande Irmão está te observando" (do original "Big Brother is watching you"). Teletela é um dispositivo através do qual o Estado vigiava cada cidadão. A Teletela era como que um televisor bidirecional, isto é, que permitia tanto ver quanto ser visto. No nosso “Big Brother”, do século 21, temos muito em comum com a literatura de Orwell. Somos vigiados no elevador, nas lojas de conveniênica, supermercados, comércios e igrejas. Por todos os lados há uma mensagem dizendo: “sorria, você esta sendo filmado”. Em 1999, John de Mol, um executivo da TV holandesa, teve a idéia de criar um “reality shw” onde pessoas comuns seriam selecionadas para conviverem juntas dentro de uma mesma casa, vigiadas por câmeras, 24 horas por dia. O nome do programa foi inspirado no personagem Big Brother do livro de Orwell Big Brother, segundo George Orwell, é o líder que tudo vê da antiutópica Oceania, governante do mundo ocidental em um futuro fictício. Representado pela figura de um homem que provavelmente na trama não exista, vigia toda a população através das chamadas teletelas, governando de forma despótica e manipulando a forma de pensar dos habitantes. A “sociedade” vigiada do “reality show” é a versão mais original de 1985. Pessoas trancafiadas, sendo observadas pelo Grande Irmão (nesse caso os telespectadores) usam uma moeda própria, uma linguem peculiar dessa geração que pensa ser livre, mas vive em um regime totalitario, assim como no livro. Uma geração escrava da beleza, do culto ao corpo perfeito, do consumismo e da moda. O verdadeiro Big Brother. O enigmático ditador da Oceania, Grande Irmão, através do Estado controlava o pensamento dos cidadãos, entre muitos outros meios, pela manipulação da língua. Na obra, uma nova língua esta em construção, a Nolilígua, que quando completa, terá a finalidade de impedir a expressão de qualquer opinião contrária ao regime. Orwell conta em seu livro a história de Winston Smith, um apagado funcionário do Ministério da Verdade, um órgão que cuida da informação pública do governo. Winston é indiferente perante a sociedade totalitária em que vive. Porém ele se revolta e se apaixonada por uma colega de trabalho, Júlia, num ambiente em que sexo, senão para procriação, é considerado crime. Wiston não se lembra de sua infância antes das mudanças políticas, seu trabalho é republicar a história, o que foi publicado anteriormente nos jornais dão espaços para versões retroativas. Diariamente, os cidadãos devem parar o trabalho por dois minutos e se dedicar a atacar histericamente o traidor foragido Emmanuel Goldstein e, em seguida, adorar a figura do Grande Irmão. Já no reality show, os participantes param para se apresentarem ao apresentador Pedro Bial, atender um telefone ou cumprir alguma tarefa a fim de ganhar comida ou a posição de líder e anjo. No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra. Segundo ele, o objetivo da guerra não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa. A guerra serve para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres e para impedir que eles acumulem cultura, riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos. Telespecatadores do programa Big Brother não ganham um milhão, não adquirem cultura, porém, são uma ameaça quando tem o poder de escolher o vencedor do Grande Irmão.

Teorias de Quentin Tarantino




Em um diálogo, Selton Mello e Seu Jorge desmistificam Tarantino


Quem conhece um pouco sobre a carreira de Quentin Jerome Tarantino sabe que o diretor tem por hábito fazer teorias inusitadas sobre assuntos mundanos. Para quem gosta do diretor vale a pena conferir suas teorias antológicas sobre a música “Like a Virgin”, o filme “Top Gun” e principalmente a teoria sobre o Super-Homen. Essas teorias, entre outras, estão no curta “Teorias de Quentin Tarantino”. Em um diálogo, Selton Mello e Seu Jorge desmistificam Tarantino. Selton revela as conexões entre todos os filmes que tenham o dedo desse diretor. Filmes com diálogos inteligentes e histórias peculiares são a marca registrada de Tarantino. Com a industria de Hollywood produzindo em média cerca de 600 filmes por ano, filmes com bons diálogos ainda são escassos e o cinema deixa a desejar fazendo com que Tarantino seja lembrado por seus roteiros intrigantes. O diretor escreve roteiros onde as histórias se passam em um universo paralelo e as vidas dos personagens estão entrelaçadas. É possível notar essa relação nos irmãos Vegas, Vicent Vega aparece em “Pulp Fiction”, já seu irmão Vic Vega é presente em Cães de Aluguel (teoria que também aparece no curta de Selton). Tarantino é diretor, ator e roterista de cinema dos Estados Unidos da América. No início da década de 1990 alcançou a fama rapidamente com seus roteiros não-lineares, diálogos memoráveis e o uso de violência. Essa receita trouxe cara nova para o padrão de filmes familiares norte-americanos. Sua paixão pelo cinema começou quando ainda trabalhava como balconista na “Video Archives”, uma famosa locadora de filmes em Manhattan Beach. O excesso de violência e sangue jorrando são ingredientes constantes nos filmes do diretor, como se vê em abundancia em “Kill Bill”. O Filme de terror “Albergue”, dirigido por Eli Roth e produzido por Tarantino não perde o estilo impetuoso. Como disse o próprio diretor Roth, “um filme horrível, em vez de um filme de horror”. O diretor faz parte do grupo de jovens diretores que por trás da revolução de filmes independentes dos anos 90 ficaram famosos. Tornou-se notório pelo seu conhecimento enciclopédico de filmes, tanto populares quanto os considerados "cinema de arte". Tarantino conta com um elenco que frequentemente participa de seus filmes. Atores de grande repercussão no cinema internacional como Uma Thurman, Bruce Willis, Stve Buscemi, Michael Madsen. Tarantino cria marcas fictícias como os cigarros "Red Apple" e a lanchonete "Big Kahuna Burgers", para os seus filmes. O diretor também é conhecido por gostar de cereais matinais, que aparecem constantemente em seus filmes, com marcas como "Fruit Brute" em Cães de Aluguel e Pulp Fiction, e "Kaboom" em “Kill Bill”. Tarantino, com seu vasto conhecimento sobre filmes, usa dos gêneros que tem apreço para influenciar seus filmes. Em “Kill Bill” é notoria a influencia de filmes de faroeste, terror italiano e filmes chineses com artes marciais. Todos os seus filmes fazem referências a outros filmes ou gêneros diferentes de cinema, em seu estilo, histórias ou diálogos. Certa vez Tarantino comentou "Eu nunca freqüentei a escola de cinema. Eu freqüentei o cinema". O Polêmico diretor foi criticado pelo cineastra negro Spike Lee pelo uso da temática racista em seus filmes, principalmente a palavra nigger (negro) em “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”. Numa entrevista à revista Variety, Lee disse: "Eu não sou contra o termo... e eu o uso, mas Tarantino é obcecado pela palavra. O que ele quer? Ser considerado um negro honorário?". Em 21 de agosto desse ano Quentin Tarantino mostrará ao mundo seu novo filme, ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, intitulado "Inglourious Basterds", O longa é estrelado pelo ator Brad Pitt e começou a ser produzido em outubro de 2008 na Europa.

terça-feira, 17 de março de 2009

Mulheres à frente de seu tempo



O que teria de comum entre Clarice Lispector e Maysa Monjardim?


Mulheres que só os íntimos puderam compreender e desvendar os segredos da alma. Clarice Lispector e Maysa Monjardim foram mulheres à frente de sua época. Vidas tão opostas que se cruzam nos acontecimentos. Clarice tinha compulsão por escrever, Maysa por cantar. Receberam prêmios, moraram na Europa, levaram o nome do Brasil em suas viagens. Ambas tiveram a honra de grandes poetas descrevê-las.
“Clarice veio de um mistério. Partiu para outro. Ficamos sem saber a essência do mistério. Ou o mistério não era essencial, era Clarice viajando nele”. Carlos Drummond deAndrade.
“Os olhos de Maysa são dois não sei quê dois não sei como diga dois Oceanos Não Pacíficos. A boca de Maysa é isto isso e aquilo Quem fala mais em Maysa a boca ou os olhos [..] Maysa não é um corpo, Maysa são dois olhos e uma boca”. Manuel Bandeira. Clarice nasceu em 10 de dezembro de 1920 na Rússia, de origem judia veio para o Brasil com dois meses de idade. Morou em vários lugares, inclusive na Europa quando foi casada com o diplomata Maury Gurgel Valente, se fixando no Rio de Janeiro onde morreu. Embora tivesse um olhar triste Clarice se dizia feliz. Era uma mulher impulsiva, buscava exprimir, através de seus textos, as amarguras e contradições do ser. Maysa nasceu em 06 de junho de 1936 na capital paulista, em uma família tradicional do Espírito Santo que logo se mudou para o Rio de Janeiro. Menina mulher se casou aos 18 anos com André Matarazzo o qual não aceitou sua carreira. Suas canções falavam muito sobre solidão, sobre tormentos de quem se atreve a se questionar e principalmente sobre o amor. Maysa tinha uma vida desregrada, o seu tema principal era o amor, Clarice era mais fina e seu tema principal era o existencialismo. Ambas morreram na década de 70. Mulheres de cultura que falavam inglês, francês...Clarice viveu mais que Maysa se tratando de tempo, mas em relação a intensidade, Maysa viveu mais. Ambas por fatalidade falavam da melancólia de forma única. Hoje aos lermos seus textos e músicas temos a sensação de que as palavras estão surgindo de nossos pensamentos, porém de forma incrível e requintada. Mulheres que sabiam lidar com as palavras. Uma era jornalista outra era um prato cheio para a categoria Clarice dizia que “Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito", ela enfoca em sues textos o ser humano e as angústias e questionamentos sociais. A intensidade das emoções de suas personagens atingem em cheio o leitor. Clarice tinha língua presa e nunca quis operar por medo. Clarice morreu de câncer no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu aniversário de 57 anos. O uso de álcool e moderadores de apetite deixavam o temperamento de Maysa instável. A bebida deixou profundas marcas em sua história, mas não apagou o seu brilho. Viciada em bebida promoveu diversos escândalos, mesmo quando não estava embriagada a mídia julgava o contrário. Alvo constante dos jornais, Maysa dizia que “a bebida é a bengala do velho que se esconde na minha personalidade". A cantora morreu em um acidente de carro na ponte Rio - Niterói em 22 de janeiro de 1979 Essas personalidades tiveram o talento revelado muito cedo Aos 18 anos Maysa gravou seu primeiro disco, aos 19 Clarice escreveu sua primeira obra. Mulheres de sobrancelhas altas e olhos bem delineados. Mulheres de olhar forte e bocas grandes. Maysa fumava durante os shows, Clarice fumava enquanto escrevia. Maysa era ousada confessa, Clarice se dizia tímida, porém ousada. É preciso um preparo psicológico para mergulhar nas obras dessas mulheres. Clarice descrevia sua alma, mas em entrevistas evita falar de si mesma, talvez porque tivera acontecimentos esdrúxulos em sua vida. A escritora sofreu um aborto espontâneo em Londres. Sua personalidade mudou após um incêndio provocando por um cigarro acesso esquecido na madrugada de 14 de setembro. Seu quarto ficou totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo, passou três dias sob o risco de morte e dois meses hospitalizada. As inúmeras e profundas cicatrizes fazem com que a escritora caia em depressão, apesar de todo o apoio recebido de seus amigos. Em entrevista no ano de sua morte Clarice declarou “O adulto é triste e solitário, ele se torna assim quando um choque muito grande. Mas eu não sou solitária tenho muitos amigos, e só estou triste hoje porque estou cansada, no geral eu sou alegre”. Clarice teve dois filhos, Paulo e Pedro. A escritora era um mistério para si mesma, não se considerava intelectual e sim intuitiva, disse que nem chegou a ler a grandes obras da humanidade, impulsiva, perdeu os pais. Se dizia amadora porque escrevia quando queria enquanto o profissional tem uma obrigação consigo mesmo. “Eu faço questão de não ser uma profissional para manter minha liberdade”. Maysa dizia que algo faltava para ser feliz, mas não sabia o que. Enquanto mantinha um relacionamento como ator Carlos Alberto, simulou que estava grávida e em seguida um aborto. A cantora tentou se matar duas vezes cortando os pulsos e sofreu dois acidentes de carro um deixou profundas cicatrizes. Temperamento boêmio teve vários relacionamentos amorosos. "O que eu mais tenho medo é de amar, e não ser amada". Ao terminar o relacionamento com Ronaldo Bôscoli disse: "Você foi um grande canalha, e só por isso vou lembrar de você pra sempre, você ta rindo? Mais é assim mesmo sabia? Os cafajestes, canalhas, os que fazem uma mulher sofrer,são esses os que são lembrados pra sempre. São eles os inesquecíveis, e você é o pior, o campeão deles todos."
Maysa adorvaa escrever poemas, tinha diários e pintava.Nunca esqueceu seu primeiro marido, tanto que antes de morrer escrever em seu diário: “tenho 40 anos, sou viúva, casei meu único filho”. Ao morrer deixou seu único filho Jayme Monjardim. Entre todas as semelhanças e diferenças uma coisa era incontestável, elas gostavam das coisas exóticas. “O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão", Frase de Clarice. "Tudo o que gosto tem sabor de pecado, é feio, censurado, imoral, fora da Lei, engorda e faz mal pra saúde”, Maysa.

O Preconceito Lingüístico

Discriminar alguém pelo modo que ele reproduz a língua portuguesa é uma forma de discriminação social escancarada e envergonhada.

O preconceito linguístico anda de mãos dadas com o preconceito social. Discriminar alguém por ser índio, negro, homossexual, mulher, pobre, nordestino e deficiente físico passou a ser inaceitável (embora ainda exista), enquanto discriminar alguém pelo modo como ele reproduz a língua portuguesa é algo comum, uma forma de descriminação social escancarada e envergonhada.
O escritor Marcos Bagno trata sobre os assunto em suas obras. "O Preconceito Linguístico" e "A Norma Oculta". Bagno é professor da Universidade de Brasília e autor de mais de 30 livros e vem se tornando conhecido por sua luta contra a discriminação social por meio da linguagem. Para ele, o preconceito linguístico precisa ser reconhecido, denunciado e combatido, porque é uma das formas mais sutis e perversas de exclusão social.
Isso me faz lembrar a avó de um conhecido meu. Ao ser indagada sobre qual a pronúncia correta da palavra sal ela disse. "O certo é ‘sar’ mas se você quiser falar sal pode também". Aquela senhora passou uma vida toda dizendo "sar", conviveu com essa pronúncia durantes anos e considera esta a forma correta de falar. Porém, ela em sua simplicidade não menosprezou os que falam sal, dizendo até que estariam corretas as duas formas. Como pode alguém na velhice mudar sua forma de falar porque está “ortograficamente” incorreto. Diga-se de passagem, está incorreta hoje em dia, porque amanhã pode haver uma reforma ortográfica ou se tornar correta.
A escrita surgiu através da pronúncia. A letra "A" é uma forma se simbolizar o som que emitimos ao pronunciar a vogal. Se a fala surgiu primeiro que a escrita, seria normal que esta seguisse aquela. Mas não é o que acontece. Temos o mito que se deve falar como escreve. Estariam perdidos os ingleses e franceses caso tivessem que falar como se escreve. Essa discussão me faz lembrar um texto de Monteiro Lobato em o "país da gramática" escrito em 1934.
"Trotou, trotou e, depois de muito trotar, deu com eles numa região onde o ar chiava de modo estranho. - Que zumbido será esse? – indagou a menina – Parece que aqui andam voando por aqui milhões de vespas invisíveis. - É que já entramos em terras do País da Gramática – explicou o rinoceronte. Estes zumbidos são os sons orais, que voam soltos no espaço. - Não comece a falar difícil que nós ficamos na mesma – observou Emília. – Sons orais, que pedantismo é esse? Som oral quer dizer som produzido pela boca. A, E, I, O, U são sons orais, como dizem os senhores gramáticos. - Pois diga logo que são letras! Gritou Emília. Mas não são letras! – protestou o rinoceronte Quando você diz A ou Ó você está produzindo um som, não está escrevendo uma letra. Letras são sinaizinhos que os homens usam para representar estes sons. Primeiro há os sons, depois é que aparecem as letras, para marcar esses sons. Entendeu?".
Cada região de um país tem o seu sotaque, sua forma de pronunciar as palavras. Dentro de um mesmo país onde é falada a mesma língua a comunicação se difere. Seria vão classificar qual estado fala o português correto. A peculiaridade das regiões com o passar dos anos transformam os sons, logo temos a evolução da língua. Vale lembrar que dobro vem do latim “duplu”, brando de “blandu” e cravo de “clavu”. Quem garante que placa não se tornará praca?
Carlos Drummond de Andrade em sua sabedoria falou sobre o mineirês. “Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, mineirês. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - Eu preciso de ir. Onde os mineiros arrumaram esse "de", aí no meio, é uma boa pergunta. Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório. Você não precisa ir, você "precisa de ir". Você não precisa viajar, você "precisa de viajar".
Muitos acham que o português é muito difícil ou que os brasileiros não sabem falar português, só em Portugal se fala bem a língua. Esse mito existe porque a nossa língua é o português, mas falamos o “brasileirês”.
O escritor Bagno cita em sua obra “A norma oculta” textos de jornalistas que ridicularizaram a forma do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comunicar. “Dúvida permanente: até quando será considerado politicamente correto que o presidente eleito do Brasil comete crassos e constantes erros de português? Queira Deus que, em breve, o assunto já possa ser abordado sem provocar grandes traumas, porque, daqui a pouco, será preciso rever os currículos das escolas do ensino básico, a fim de adaptar as lições sobre plural e concordância ao idioma que as crianças ouvem o presidente falar na televisão”. (Jornal do Brasil do dia 10/11/2002).
A afirmação preconceituosa, também foi instrumento de difamação durante as disputas eleitoras de 1989, 1994 e 1998. A relação entre língua e poder pode ser melhor entendido ao ler um trecho do linguista britânico James Milroy. “Numa época em que a discriminação em termos de raça, cor, religião ou sexo não é publicamente aceitável, o último baluarte da discriminação social explícita continuará a ser o uso que uma pessoa faz da língua”. Voltemos ao início do texto. Uma discussão sem fim.