segunda-feira, 23 de março de 2009

A mulher é a carne mais barata do mercado



“Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante”, Carlos Drummond de Andrade.


Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette foram únicos ao dizerem que a carne mais barata do mercado é a carne negra. Eu ouso fazer um trocadilho, “a carne mais barata do mercado é a carne feminina. Embora mereça valor inestimável, a mulher tem esquecido do tesouro que possui em si mesma. Me senti na liberdade de mudar a letra da música de Seu Jorge e companhia: “Quem vai de graça pra cama. E para debaixo dela. Quem vai de graça pro escuro. E pros motéis enlouquecidas. A carne mais barata do mercado é a carne feminina. Quem fez e faz história segurando esse país no braço. A mulher aqui não se sente revoltada, porque os conselhos já foram lançados e o desespero é lento, mas muito bem intencionado. E esse país vai deixando todo mundo fútil e o cabelo esticado. Mas mesmo assim, ainda guardo o direito de algum antepassado da mulher brigar sutilmente por respeito. Brigar bravamente por respeito, brigar por justiça e por respeito de algum antepassado da mulher. Brigar, brigar, brigar. A carne mais barata do mercado é a carne feminina. No último fim de semana fui em uma danceteria na cidade de São Paulo, só tinha gente bonita e os ditos “globais”. Era festa de uma agência de modelo, homens sarados, meninas magras com cabelos que nasceram para ser sacudidos em um comercial de xampu. Isso me fez lembrar de um texto da escritora Martha Medeiros. “Você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem o seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar (ou quase). Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém. Com um currículo desse, criatura, por que diabo está sem um amor?”. Seria porque as mulheres estão tão liberais que não precisam mais de um companheiro? Ou seria porque as mulheres estão tão independentes que os homens tem receio dessa autoconfiança? Se alguém descobrir me conte. Porque as vezes penso que elas não querem, outra hora tenho ceteza que eles só “as” querem. Claro que pra toda regra existe sua exeção, mas quanto maior o número de pessoas por metro guadrado menor a possibilidade da exeção. Você dificilmente vai arrumar um namorado na balada. As mulheres vão para as festas seminuas, achando que vão arrumar um “bom partido”, dali tenha a certeza que não vai passar de uma “vida tão vulgar” como diria Claudinha Leite. O homem continua com seu instinto animal, vai para as festas para caçar, sempre foi assim desde os tempos das cavernas. Eles procuram as mulheres com os corpos mais “reforçados”, antigamente se procurada o corpo reforçado para criar filhos saudavéis. Hoje os corpos “reforçados” são para deixar o homem “saudavel”. Ao ver as moças exibidas na danceteria, com pernas de fora, empoleirada nos lugares mais auto, dançando “periguete”, me lembrei das carnes expostas no açougue. Sabe quando chegamos a um açougue e tem todos os tipos de carne à mostra pra quem quiser comprar? Com gordurinha ou magrinha, maior ou menor. A expressão que tenho é que as mulheres saem para serem caçadas, e os homens ficam lá imunes, esperando que elas se ofereçam. É como se o corte de carne falasse: “Tô aqui me compra que eu sou a mais gostosa”. Martha parece entender esse universo paralelo, onde os homens são de marte e as mulheres são de vênus e ninguém sabe quem é e o que quer. “O ficante é o cara que te namora por duas horas numa festa, se não tiver se inscrito no campeonato.“Quem pega mais numa única noite”. É natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... Esquece, não acho natural coisa nenhuma. Considero um desperdício de energia pegar sete caras, pegar nove “mina”. A gente está falando de quê, de catadores de lixo? Pegar, pega-se uma caneta, um táxi, uma gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegue e use, pegue-e-chute, pegue-e-conte-para-os-amigos. No entanto, quem pode contra o avanço (???) dos costumes e contra a vulgarização do vocabulário?”.
Eu como mulher fico triste em escrever esse texto e confesso que tomei cuidado com cada palavra para que não fosse mal interpretada. Eu faço parte do mundo feminino e logo sou incluída nessa sociedade sem conteúdo, onde o cérebro ficou esquecido junto com os princípios. O mais cômico é a mulher considerada careta que costuma sair com uma roupa brega, longa sem mostrar as curvas, de repente ser seduzida por alguns minutos de “olha pra mim” e se tornar parecida com as outras pra se senir normal. Atire a primeira pedra que nunca se exibiu para sentir autoconfiança. A mulher deve se independente, inteligente, moderna, mas não deve esquecer que é mulher. A mulher é a primeira maravilha, ela chora, é complicada, sentimental, linda, faz milhões de coisas ao mesmo tempo, dá a luz, amamenta, se apaixona e faz se apaixonarem por ela. A mulher tem um valor inestimável, como já disse no inicio desse texto, e às vezes ela esquece disso e acha que é apenas um pedaço de carne no açougue, ela precisa ser sábia para ser a mulher que merece. As Sagradas Escrituras falam da mulher sábia.. Toda mulher sábia edifica a sua casa; a insensata, porém, derruba-a com as suas mão". (Provérbios 14:1) Por fim mais uma da Martha. “O poeta Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é para sempre. É ele quem encerra esta crônica, dando-nos uma ordem para a vida. ‘Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante’, (Drummond). Mas não se esqueça: Assim como não se deve misturar bebidas, misturar pessoas também pode dar ressaca”.

domingo, 22 de março de 2009

O “Big Brother” esta cada vez mais presente





Na sociedade descrita por George Orwell, em sua obra 1984, todos as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por “teletelas”


Há quase 60 anos, o escritor George Orwell já alertava sobre a nossa sociedade, em o romance Mil Novecentos e Oitenta e Quatro- 1984, que conta a história de uma sociedade vigiada através de uma teletela pelo grande irmão (Big Brother). 1984 retrata o cotidiano de uma sociedade onde o Estado é onipresente, com a capacidade de alterar a história e o idioma, de oprimir e torturar o povo e de travar uma guerra sem fim, com o objetivo de manter a sua estrutura inabalada. O título vem da inversão dos dois últimos dígitos do ano em que o livro foi escrito, 1948. Na história escrita por Orwell, todos as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por teletelas (telescreen), sendo constantemente lembrados pela frase de propaganda do Estado: "o Grande Irmão zela por ti" ou "o Grande Irmão está te observando" (do original "Big Brother is watching you"). Teletela é um dispositivo através do qual o Estado vigiava cada cidadão. A Teletela era como que um televisor bidirecional, isto é, que permitia tanto ver quanto ser visto. No nosso “Big Brother”, do século 21, temos muito em comum com a literatura de Orwell. Somos vigiados no elevador, nas lojas de conveniênica, supermercados, comércios e igrejas. Por todos os lados há uma mensagem dizendo: “sorria, você esta sendo filmado”. Em 1999, John de Mol, um executivo da TV holandesa, teve a idéia de criar um “reality shw” onde pessoas comuns seriam selecionadas para conviverem juntas dentro de uma mesma casa, vigiadas por câmeras, 24 horas por dia. O nome do programa foi inspirado no personagem Big Brother do livro de Orwell Big Brother, segundo George Orwell, é o líder que tudo vê da antiutópica Oceania, governante do mundo ocidental em um futuro fictício. Representado pela figura de um homem que provavelmente na trama não exista, vigia toda a população através das chamadas teletelas, governando de forma despótica e manipulando a forma de pensar dos habitantes. A “sociedade” vigiada do “reality show” é a versão mais original de 1985. Pessoas trancafiadas, sendo observadas pelo Grande Irmão (nesse caso os telespectadores) usam uma moeda própria, uma linguem peculiar dessa geração que pensa ser livre, mas vive em um regime totalitario, assim como no livro. Uma geração escrava da beleza, do culto ao corpo perfeito, do consumismo e da moda. O verdadeiro Big Brother. O enigmático ditador da Oceania, Grande Irmão, através do Estado controlava o pensamento dos cidadãos, entre muitos outros meios, pela manipulação da língua. Na obra, uma nova língua esta em construção, a Nolilígua, que quando completa, terá a finalidade de impedir a expressão de qualquer opinião contrária ao regime. Orwell conta em seu livro a história de Winston Smith, um apagado funcionário do Ministério da Verdade, um órgão que cuida da informação pública do governo. Winston é indiferente perante a sociedade totalitária em que vive. Porém ele se revolta e se apaixonada por uma colega de trabalho, Júlia, num ambiente em que sexo, senão para procriação, é considerado crime. Wiston não se lembra de sua infância antes das mudanças políticas, seu trabalho é republicar a história, o que foi publicado anteriormente nos jornais dão espaços para versões retroativas. Diariamente, os cidadãos devem parar o trabalho por dois minutos e se dedicar a atacar histericamente o traidor foragido Emmanuel Goldstein e, em seguida, adorar a figura do Grande Irmão. Já no reality show, os participantes param para se apresentarem ao apresentador Pedro Bial, atender um telefone ou cumprir alguma tarefa a fim de ganhar comida ou a posição de líder e anjo. No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra. Segundo ele, o objetivo da guerra não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa. A guerra serve para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres e para impedir que eles acumulem cultura, riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos. Telespecatadores do programa Big Brother não ganham um milhão, não adquirem cultura, porém, são uma ameaça quando tem o poder de escolher o vencedor do Grande Irmão.

Teorias de Quentin Tarantino




Em um diálogo, Selton Mello e Seu Jorge desmistificam Tarantino


Quem conhece um pouco sobre a carreira de Quentin Jerome Tarantino sabe que o diretor tem por hábito fazer teorias inusitadas sobre assuntos mundanos. Para quem gosta do diretor vale a pena conferir suas teorias antológicas sobre a música “Like a Virgin”, o filme “Top Gun” e principalmente a teoria sobre o Super-Homen. Essas teorias, entre outras, estão no curta “Teorias de Quentin Tarantino”. Em um diálogo, Selton Mello e Seu Jorge desmistificam Tarantino. Selton revela as conexões entre todos os filmes que tenham o dedo desse diretor. Filmes com diálogos inteligentes e histórias peculiares são a marca registrada de Tarantino. Com a industria de Hollywood produzindo em média cerca de 600 filmes por ano, filmes com bons diálogos ainda são escassos e o cinema deixa a desejar fazendo com que Tarantino seja lembrado por seus roteiros intrigantes. O diretor escreve roteiros onde as histórias se passam em um universo paralelo e as vidas dos personagens estão entrelaçadas. É possível notar essa relação nos irmãos Vegas, Vicent Vega aparece em “Pulp Fiction”, já seu irmão Vic Vega é presente em Cães de Aluguel (teoria que também aparece no curta de Selton). Tarantino é diretor, ator e roterista de cinema dos Estados Unidos da América. No início da década de 1990 alcançou a fama rapidamente com seus roteiros não-lineares, diálogos memoráveis e o uso de violência. Essa receita trouxe cara nova para o padrão de filmes familiares norte-americanos. Sua paixão pelo cinema começou quando ainda trabalhava como balconista na “Video Archives”, uma famosa locadora de filmes em Manhattan Beach. O excesso de violência e sangue jorrando são ingredientes constantes nos filmes do diretor, como se vê em abundancia em “Kill Bill”. O Filme de terror “Albergue”, dirigido por Eli Roth e produzido por Tarantino não perde o estilo impetuoso. Como disse o próprio diretor Roth, “um filme horrível, em vez de um filme de horror”. O diretor faz parte do grupo de jovens diretores que por trás da revolução de filmes independentes dos anos 90 ficaram famosos. Tornou-se notório pelo seu conhecimento enciclopédico de filmes, tanto populares quanto os considerados "cinema de arte". Tarantino conta com um elenco que frequentemente participa de seus filmes. Atores de grande repercussão no cinema internacional como Uma Thurman, Bruce Willis, Stve Buscemi, Michael Madsen. Tarantino cria marcas fictícias como os cigarros "Red Apple" e a lanchonete "Big Kahuna Burgers", para os seus filmes. O diretor também é conhecido por gostar de cereais matinais, que aparecem constantemente em seus filmes, com marcas como "Fruit Brute" em Cães de Aluguel e Pulp Fiction, e "Kaboom" em “Kill Bill”. Tarantino, com seu vasto conhecimento sobre filmes, usa dos gêneros que tem apreço para influenciar seus filmes. Em “Kill Bill” é notoria a influencia de filmes de faroeste, terror italiano e filmes chineses com artes marciais. Todos os seus filmes fazem referências a outros filmes ou gêneros diferentes de cinema, em seu estilo, histórias ou diálogos. Certa vez Tarantino comentou "Eu nunca freqüentei a escola de cinema. Eu freqüentei o cinema". O Polêmico diretor foi criticado pelo cineastra negro Spike Lee pelo uso da temática racista em seus filmes, principalmente a palavra nigger (negro) em “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”. Numa entrevista à revista Variety, Lee disse: "Eu não sou contra o termo... e eu o uso, mas Tarantino é obcecado pela palavra. O que ele quer? Ser considerado um negro honorário?". Em 21 de agosto desse ano Quentin Tarantino mostrará ao mundo seu novo filme, ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, intitulado "Inglourious Basterds", O longa é estrelado pelo ator Brad Pitt e começou a ser produzido em outubro de 2008 na Europa.

terça-feira, 17 de março de 2009

Mulheres à frente de seu tempo



O que teria de comum entre Clarice Lispector e Maysa Monjardim?


Mulheres que só os íntimos puderam compreender e desvendar os segredos da alma. Clarice Lispector e Maysa Monjardim foram mulheres à frente de sua época. Vidas tão opostas que se cruzam nos acontecimentos. Clarice tinha compulsão por escrever, Maysa por cantar. Receberam prêmios, moraram na Europa, levaram o nome do Brasil em suas viagens. Ambas tiveram a honra de grandes poetas descrevê-las.
“Clarice veio de um mistério. Partiu para outro. Ficamos sem saber a essência do mistério. Ou o mistério não era essencial, era Clarice viajando nele”. Carlos Drummond deAndrade.
“Os olhos de Maysa são dois não sei quê dois não sei como diga dois Oceanos Não Pacíficos. A boca de Maysa é isto isso e aquilo Quem fala mais em Maysa a boca ou os olhos [..] Maysa não é um corpo, Maysa são dois olhos e uma boca”. Manuel Bandeira. Clarice nasceu em 10 de dezembro de 1920 na Rússia, de origem judia veio para o Brasil com dois meses de idade. Morou em vários lugares, inclusive na Europa quando foi casada com o diplomata Maury Gurgel Valente, se fixando no Rio de Janeiro onde morreu. Embora tivesse um olhar triste Clarice se dizia feliz. Era uma mulher impulsiva, buscava exprimir, através de seus textos, as amarguras e contradições do ser. Maysa nasceu em 06 de junho de 1936 na capital paulista, em uma família tradicional do Espírito Santo que logo se mudou para o Rio de Janeiro. Menina mulher se casou aos 18 anos com André Matarazzo o qual não aceitou sua carreira. Suas canções falavam muito sobre solidão, sobre tormentos de quem se atreve a se questionar e principalmente sobre o amor. Maysa tinha uma vida desregrada, o seu tema principal era o amor, Clarice era mais fina e seu tema principal era o existencialismo. Ambas morreram na década de 70. Mulheres de cultura que falavam inglês, francês...Clarice viveu mais que Maysa se tratando de tempo, mas em relação a intensidade, Maysa viveu mais. Ambas por fatalidade falavam da melancólia de forma única. Hoje aos lermos seus textos e músicas temos a sensação de que as palavras estão surgindo de nossos pensamentos, porém de forma incrível e requintada. Mulheres que sabiam lidar com as palavras. Uma era jornalista outra era um prato cheio para a categoria Clarice dizia que “Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito", ela enfoca em sues textos o ser humano e as angústias e questionamentos sociais. A intensidade das emoções de suas personagens atingem em cheio o leitor. Clarice tinha língua presa e nunca quis operar por medo. Clarice morreu de câncer no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu aniversário de 57 anos. O uso de álcool e moderadores de apetite deixavam o temperamento de Maysa instável. A bebida deixou profundas marcas em sua história, mas não apagou o seu brilho. Viciada em bebida promoveu diversos escândalos, mesmo quando não estava embriagada a mídia julgava o contrário. Alvo constante dos jornais, Maysa dizia que “a bebida é a bengala do velho que se esconde na minha personalidade". A cantora morreu em um acidente de carro na ponte Rio - Niterói em 22 de janeiro de 1979 Essas personalidades tiveram o talento revelado muito cedo Aos 18 anos Maysa gravou seu primeiro disco, aos 19 Clarice escreveu sua primeira obra. Mulheres de sobrancelhas altas e olhos bem delineados. Mulheres de olhar forte e bocas grandes. Maysa fumava durante os shows, Clarice fumava enquanto escrevia. Maysa era ousada confessa, Clarice se dizia tímida, porém ousada. É preciso um preparo psicológico para mergulhar nas obras dessas mulheres. Clarice descrevia sua alma, mas em entrevistas evita falar de si mesma, talvez porque tivera acontecimentos esdrúxulos em sua vida. A escritora sofreu um aborto espontâneo em Londres. Sua personalidade mudou após um incêndio provocando por um cigarro acesso esquecido na madrugada de 14 de setembro. Seu quarto ficou totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo, passou três dias sob o risco de morte e dois meses hospitalizada. As inúmeras e profundas cicatrizes fazem com que a escritora caia em depressão, apesar de todo o apoio recebido de seus amigos. Em entrevista no ano de sua morte Clarice declarou “O adulto é triste e solitário, ele se torna assim quando um choque muito grande. Mas eu não sou solitária tenho muitos amigos, e só estou triste hoje porque estou cansada, no geral eu sou alegre”. Clarice teve dois filhos, Paulo e Pedro. A escritora era um mistério para si mesma, não se considerava intelectual e sim intuitiva, disse que nem chegou a ler a grandes obras da humanidade, impulsiva, perdeu os pais. Se dizia amadora porque escrevia quando queria enquanto o profissional tem uma obrigação consigo mesmo. “Eu faço questão de não ser uma profissional para manter minha liberdade”. Maysa dizia que algo faltava para ser feliz, mas não sabia o que. Enquanto mantinha um relacionamento como ator Carlos Alberto, simulou que estava grávida e em seguida um aborto. A cantora tentou se matar duas vezes cortando os pulsos e sofreu dois acidentes de carro um deixou profundas cicatrizes. Temperamento boêmio teve vários relacionamentos amorosos. "O que eu mais tenho medo é de amar, e não ser amada". Ao terminar o relacionamento com Ronaldo Bôscoli disse: "Você foi um grande canalha, e só por isso vou lembrar de você pra sempre, você ta rindo? Mais é assim mesmo sabia? Os cafajestes, canalhas, os que fazem uma mulher sofrer,são esses os que são lembrados pra sempre. São eles os inesquecíveis, e você é o pior, o campeão deles todos."
Maysa adorvaa escrever poemas, tinha diários e pintava.Nunca esqueceu seu primeiro marido, tanto que antes de morrer escrever em seu diário: “tenho 40 anos, sou viúva, casei meu único filho”. Ao morrer deixou seu único filho Jayme Monjardim. Entre todas as semelhanças e diferenças uma coisa era incontestável, elas gostavam das coisas exóticas. “O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão", Frase de Clarice. "Tudo o que gosto tem sabor de pecado, é feio, censurado, imoral, fora da Lei, engorda e faz mal pra saúde”, Maysa.

O Preconceito Lingüístico

Discriminar alguém pelo modo que ele reproduz a língua portuguesa é uma forma de discriminação social escancarada e envergonhada.

O preconceito linguístico anda de mãos dadas com o preconceito social. Discriminar alguém por ser índio, negro, homossexual, mulher, pobre, nordestino e deficiente físico passou a ser inaceitável (embora ainda exista), enquanto discriminar alguém pelo modo como ele reproduz a língua portuguesa é algo comum, uma forma de descriminação social escancarada e envergonhada.
O escritor Marcos Bagno trata sobre os assunto em suas obras. "O Preconceito Linguístico" e "A Norma Oculta". Bagno é professor da Universidade de Brasília e autor de mais de 30 livros e vem se tornando conhecido por sua luta contra a discriminação social por meio da linguagem. Para ele, o preconceito linguístico precisa ser reconhecido, denunciado e combatido, porque é uma das formas mais sutis e perversas de exclusão social.
Isso me faz lembrar a avó de um conhecido meu. Ao ser indagada sobre qual a pronúncia correta da palavra sal ela disse. "O certo é ‘sar’ mas se você quiser falar sal pode também". Aquela senhora passou uma vida toda dizendo "sar", conviveu com essa pronúncia durantes anos e considera esta a forma correta de falar. Porém, ela em sua simplicidade não menosprezou os que falam sal, dizendo até que estariam corretas as duas formas. Como pode alguém na velhice mudar sua forma de falar porque está “ortograficamente” incorreto. Diga-se de passagem, está incorreta hoje em dia, porque amanhã pode haver uma reforma ortográfica ou se tornar correta.
A escrita surgiu através da pronúncia. A letra "A" é uma forma se simbolizar o som que emitimos ao pronunciar a vogal. Se a fala surgiu primeiro que a escrita, seria normal que esta seguisse aquela. Mas não é o que acontece. Temos o mito que se deve falar como escreve. Estariam perdidos os ingleses e franceses caso tivessem que falar como se escreve. Essa discussão me faz lembrar um texto de Monteiro Lobato em o "país da gramática" escrito em 1934.
"Trotou, trotou e, depois de muito trotar, deu com eles numa região onde o ar chiava de modo estranho. - Que zumbido será esse? – indagou a menina – Parece que aqui andam voando por aqui milhões de vespas invisíveis. - É que já entramos em terras do País da Gramática – explicou o rinoceronte. Estes zumbidos são os sons orais, que voam soltos no espaço. - Não comece a falar difícil que nós ficamos na mesma – observou Emília. – Sons orais, que pedantismo é esse? Som oral quer dizer som produzido pela boca. A, E, I, O, U são sons orais, como dizem os senhores gramáticos. - Pois diga logo que são letras! Gritou Emília. Mas não são letras! – protestou o rinoceronte Quando você diz A ou Ó você está produzindo um som, não está escrevendo uma letra. Letras são sinaizinhos que os homens usam para representar estes sons. Primeiro há os sons, depois é que aparecem as letras, para marcar esses sons. Entendeu?".
Cada região de um país tem o seu sotaque, sua forma de pronunciar as palavras. Dentro de um mesmo país onde é falada a mesma língua a comunicação se difere. Seria vão classificar qual estado fala o português correto. A peculiaridade das regiões com o passar dos anos transformam os sons, logo temos a evolução da língua. Vale lembrar que dobro vem do latim “duplu”, brando de “blandu” e cravo de “clavu”. Quem garante que placa não se tornará praca?
Carlos Drummond de Andrade em sua sabedoria falou sobre o mineirês. “Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, mineirês. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - Eu preciso de ir. Onde os mineiros arrumaram esse "de", aí no meio, é uma boa pergunta. Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório. Você não precisa ir, você "precisa de ir". Você não precisa viajar, você "precisa de viajar".
Muitos acham que o português é muito difícil ou que os brasileiros não sabem falar português, só em Portugal se fala bem a língua. Esse mito existe porque a nossa língua é o português, mas falamos o “brasileirês”.
O escritor Bagno cita em sua obra “A norma oculta” textos de jornalistas que ridicularizaram a forma do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comunicar. “Dúvida permanente: até quando será considerado politicamente correto que o presidente eleito do Brasil comete crassos e constantes erros de português? Queira Deus que, em breve, o assunto já possa ser abordado sem provocar grandes traumas, porque, daqui a pouco, será preciso rever os currículos das escolas do ensino básico, a fim de adaptar as lições sobre plural e concordância ao idioma que as crianças ouvem o presidente falar na televisão”. (Jornal do Brasil do dia 10/11/2002).
A afirmação preconceituosa, também foi instrumento de difamação durante as disputas eleitoras de 1989, 1994 e 1998. A relação entre língua e poder pode ser melhor entendido ao ler um trecho do linguista britânico James Milroy. “Numa época em que a discriminação em termos de raça, cor, religião ou sexo não é publicamente aceitável, o último baluarte da discriminação social explícita continuará a ser o uso que uma pessoa faz da língua”. Voltemos ao início do texto. Uma discussão sem fim.